terça-feira, 10 de abril de 2012

Precipitar

Ao entardecer tive uma súbita vontade de tomar um café quente (coisa que não faço com frequência), tinha calor, eu sei, mas eu precisava sentir aquecer dentro também. Coloquei um pouco de água para ferver e sem querer passei a observar as idas e vindas que a chama do fogão fazia, ao observar tal andança percebi a água encantada e entrando na dança, ela também queria participar daquele momento, sem pestanejar continuei a observar e me vi acometida por um encantamento sem explicação, como ficar tão entretida com apenas bolinhas que surgiam na água? Sim, era uma boa indagação!
Enquanto a água "rosada" fervia, eu me senti aquecer sem se quer ter misturado: água, açúcar e o pó do café, então decidi parar com aquilo tudo e voltar ao simples fato de só: "tomar café". Desliguei o fogo e água imediatamente parou, sim... eu já tinha visto aquilo, mas em forma de intriga me pareceu tão diferente, tão precipitado...
Bem, peguei a xícara e a medida que ia fazendo a mistura até chegar no meu café, de cor tão escura, de gosto ainda não tão doce, comecei a pensar se teria me precipitado em desligar o fogo, será? Mas a água estava quente, esse era o seu fim, não tinha cabimento permitir ir além e fazer com que ela virasse vapor e flutuasse, e fosse.. assim, sem destino.
Foi aí que percebi que tomar café não iria ser o bastante, por quê mergulhar numa xícara escura, mesmo sabendo o que tem dentro, se eu poderia "precipitar" e fazer cair gotas e gotas de água? Mesmo não sabendo onde cairia a doce e rosada água "dançante", mesmo não sabendo com quem ela se juntaria para fazer chover, mesmo não sabendo em que forma seria, se chuva por chuva, se chuvisco, se granizo (..)
Ah - suspirei- e pensei que precipitar não é, necessariamente, colocar tudo a perder, ou fazer a coisa as pressas e erradas, pode ser ir fundo, ir longe, ser constante ou inconstante, ser você, ser o outro, ser dois ou ser, apenas, um.
Sem outro tom, eu me forcei a fazer o que a água a muito tempo já fazia, talvez precipitar seja o que eu precise, mesmo que por hora não tenha o que eu acho que era para ter, até porque aprendi sabiamente com um certo andante, que quando não se tem o que se deseja (ou acha que se deseja) o certo é agarrar-se ao que se possui.
Percebi que não fazendo isto, era exatamente o que eu estava fazendo, era me agarrando ao que eu possuía que eu estava, mesmo que "voando" estivesse.
Doação nem sempre significa sorrir, doação por vezes é não doar, para que você consiga chegar a: precipitar.

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