domingo, 25 de outubro de 2009

Num pedaço de papel

Estava precisando pegar aquele pedaço de papel, aquela caneta e começar a escrever de novo...
De onde veio essa repentina vontade? Deve ter sido daquela conversa não muito agradável que tivemos, admito que tentei disfarçar com sorrisos o meu desconforto, mas acho que não adiantou muito.
Estava escrito nos meus olhos o meu "não gostar", só não sei ao certo o que te motivava aquilo tudo. Mas voltemos para o papel (..)
Tinha que colocar ali todo o meu mal-estar, sei lá, acho que isso me traria algum conforto.. então comecei: (..)
Sabe, para falar a verdade eu não cheguei a começar já que eu escrevia e apagava, quer dizer eu nem cheguei a escrever só risquei aquele pedaço de papel com riscos que não tinham "nada a ver" e quando via o que tinha feito, apagava e apagava....
Porém os riscos insistiam em ficar aparentes na folha, eles ficavam marcados lá e por mais que eu colocasse força para apagar eu não conseguia, até parece que eles tinham que ficar lá... não entendia direito, então comecei a pensar naquilo tudo sem prestar atenção no que eu estava fazendo, quando dei por mim, o pedaço de papel estava novamente cheio de rabiscos que eu tinha que apagar, ou melhor que eu tentava apagar.
Passei horas fazendo isso, rabiscar e apagar, rabiscar e apagar, rabiscar e (..) Me bateu um cansaço e eu resolvi dar uma pausa, deixando o pedaço de papel sobre a mesa, depois disso fui tomar um suco e me encaminhei para a sala da frente, enquanto tomava ficava a pensar nos rabiscos e no que eles significavam, porque eles não sumiam totalmente?... Porque eu sem perceber fazia uns, e as vezes, percebendo fazia outros. Pensei tanto que cheguei a parar e pensar em não pensar mais sobre isso, foi aí que olhei para aquela bela tarde, fixando os meus olhos no céu, vi os contornos das nuvens que se faziam e se desfaziam, porém os rabiscos continuavam lá para dar nova forma a nova figura que aquela nuvem iria fazer e foi aí que eu entendi a importância daquele pedaço de papel, dos rabiscos, da caneta, e das vezes que eu os apaguei e os refiz, das vezes que eu não gostei de ouvir o que ouvi, da vezes que meu sorriso tentou esconder o que por dentro existia, das vezes que eu não deixei ninguém me ajudar, das vezes que eu não via, das vezes que tomei uma decisão...
E de tantas vezes (..)
Voltando para aquela velha mesinha peguei o papel e a caneta que estavam em cima dela, coloquei-os no meu bolso com os olhos repletos de tantas coisas que se transformaram em um orvalho lacrimal. É, eu respirei... e com um leve sorriso continuei a caminhar... Num pedaço de papel!

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